sábado, novembro 29, 2008

Animais que não precisam de comer




Só mesmo uma notícia desta envergadura me poderia fazer voltar a enviar um novo artigo neste blog desde o último que aqui foi colocado, já há mais de um ano. Isto porque hoje de manhã fiquei deliciado, para não dizer que terei delirado, com a notícia que vinha no Jornal Expresso a respeito de uma lesma do mar fotossintética que adquire os cloroplastos necessários à fotossíntese por ingestão de uma alga. Isto fez-me recordar os meus tempos do secundária em que me lembro de ter colocado à minha professora de Biologia do 11ºAno, já lá vão 16 anos, sob a possibilidade de existirem animais com cloroplastos, e, lembro-me da minha ideia ter como base o facto dos cloroplastos serem organelos semi-autónomos, uma vez que, possuindo o seu próprio ADN, são capazes de sintetizar o seu próprio reportório de proteínas e supõe-se que, no passado geológico, há uns "poucos" milhares de milhões de anos, na Terra Primitiva, onde ainda não haveria oxigénio atmosférico, os cloroplastos teriam sido organismos independentes que teriam "inventado" a fotossíntese mas que teriam dificuldade em sobreviver sem ser no interior do citoplasma de células maiores, daí constituindo a relação simbiótica que permitiu o aparecimo do Reino Vegetal. As mitocôndrias, responsável pelo processo biológico "inverso" da fotossíntese, isto é, a libertação da energia acumulada pela fotossíntese em compostos de carbono, processo a que se dá o nome de Respiração Aeróbia, também possuem o seu próprio ADN, mas estas últimas existem tanto em animais como em plantas. Só os cloroplastos é que não conseguiram sobreviver no citoplasma duma célula animal, mas parece que este invertebrado - a lesma-do-mar Elysia chlorotica adquiriu a forma de manter os cloroplastos no interior do citoplasma das suas células epitelias do seu tubo digestivo. Só não conseguiu ainda o passo evolutivo seguinte - transmitir os cloroplastos de geração em geração, transmitindo-os nos seus gâmetas à geração seguinte (esparmatozóides com cloroplastos?!?!?), precisando ainda de ingerir a alga - neste caso a "Vaucheria litorea" de forma a adquirir os cloroplastos necessários, de uma forma ou outra, esta parece ser a única vez que a Elysia precisa de comer, de forma que não precisará de voltar a comer daí a pouco tempo. No artigo onde vem a notícia não responde à pergunta se os indivíduos desta espécie não precisam de se voltar a alimentar novamente durante a sua vida, mas o título do artigo realça o facto extraordinário de um dos genes necessários à fotossíntese ter sido "transmitido", digamos assim, para o genoma da própria lesma - isto é, a lesma possui no seu DNA genes necessários à fotossíntese, mas o que terá acontecido para a lesma ainda não se ter transformado num verdadeiro híbrido "animal+planta" é de reter os cloroplastos e transmiti-los à geração seguinte de lesmas descendentes esses cloroplastas através da sua própria reprodução sem precisar de voltar a ingerir a alga de onde obtém os cloroplastos.

De uma forma ou de outra, esta é uma notícia extraordinária, que passou despercebida a muita gente - uma pesquisa no Google News devolve menos de 100 resultados - o Slashdot, a quem normalmente não escapa nada de novidades no mundo científico e onde qualquer pessoa pode colocar artigos - tem 0 resultados. O que é certo é que uma vez mais a realidade superou a ficção, e eu vi no dia de hoje uma coisa que tinha suposto na minha adolescência como sendo provável tornar-se realidade. Não é todos os dias que uma pessoa se sente assim!

Link para outro artigo interessantíssimo sob esta notícia: http://blogs.discovermagazine.com/loom/2008/11/14/going-green/ - chama a atenção para as consequências fantásticas que podem decorrer desta descoberta - criar animais-planta de forma daonde iremos obter toda a nossa carne ?